Balada das 13 Casas, de Luiz Bacellar

São 13 casas unidas,
são 13 casas nascidas
no mesmo lance de rua,
com as mesmas paredes-meias,
os mesmos oitões de taipa,
a mesma fachada nua
e as mesmas janelas tristes
de 13 casas na rua.

Unidas? Bem... desunidas
nos problemas dos que habitam
suas paredes estanques;
mas juntas, pelo beiral,
pelos caibros de itaúba,
pelas telhas de canal
de 13 casas na rua.

E as famílias que moravam
(ainda algumas demoram)
nos tempos do berimbau?
Lembro: Cabelo-de-Fogo,
família Boca-Medonha,
a família Macaxeira
e a família Bacurau
das 13 casas da rua.

Das 13 só restam 11:
2 foram demolidas

pra dar lugar a um convento
de padres redentoristas
que, não contentes com isso,
de Tocos para Aparecida
mudaram o nome do bairro
das 13 casas da rua.

Numa delas eu vivi,
numa outra me criei,
quanto às outras, pelos donos
foram sendo reformadas,
gente próspera e "elegante"
("refinados" novos-ricos)
como atestam as fachadas
das 13 casas da rua.


Senhora Dona Donana
(Anna Henriqueta da Cunha),
ex-dona do quarteirão
irmão no estilo e armagassa,
a vós dedico e consagro
esta balada sem graça
em memória das antigas
fachadas, já derrubadas,
das 13 casas da rua.


Do livro Frauta de Barro, 6ª edição. Manaus: Editora Valer / Governo do Estado do Amazonas / Adua / Uninorte, 2005. Este livro foi vencedor do Prêmio Olavo Bilac, no Rio de Janeiro, em 1959. E foi reeditado pela Valer na Coleção Resgate.


Luiz Bacellar - 1928-2012
"Luiz Franco de Sá Bacellar nasceu em Manaus, no dia 4 de setembro de 1928. Completou seus estudos em São Paulo, no tradicional Colégio São Bento. Foi professor de Literatura e Língua Portuguesa no Colégio Estadual Pedro II e um dos fundadores do Clube da Madrugada. Em 1969 ganhou o prêmio Olavo Bilac, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, com o livro Frauta de Barro, obra que, publicada apenas em 1963, marcou sua estreia literária. Outras poéticas: Sol de Feira (Manaus, 1973), Quatro Movimentos (Manaus, 1975), O Crisântemo de cem pétalas, em parceria com Roberto Evangelista (Manaus, 1985), Quarteto (Manaus, 1998) e Satori (Manaus, 2000)."
Fonte: Poesia e Poetas do Amazonas, org. Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger. Manaus: Editora Valer, 2006.

Bacelar faleceu dia  9 de setembro de 2012, em Manaus, em decorrência de complicações de um câncer de pulmão diagnosticado no início do ano. Tinha 84 anos.

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