Entrevista com Lucyanne Afonso, MSc. UFAM
Lucyanne Afonso
Professora do Departamento de Artes, no curso de Música da UFAM e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia
Lucyanne Afonso |
“A dissertação não é só minha, é da sociedade, é um documento oficial, para quem quiser conhecer, pesquisar, continuar, aprofundar, sobre nossa música amazonense.”
Esta é a nossa primeira entrevista da seção, que traz Lucyanne Afonso, professora e pesquisadora da UFAM. Lucyanne nasceu em Manaus, estudou Educação Artística na UFAM, cursou especialização em Musicoterapia e em novembro
de 2012 defendeu sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em
Sociedade e Cultura na Amazônia, UFAM. Nessa conversa Lucyanne nos conta um pouco
dessa trajetória de amor, pesquisa e dedicação à música.
Paneiro - Lucyanne, como começou esse interesse pela música?
Lucyanne - Desde
criança sempre ouvi muita música, meu pai todos os domingos escutava aqueles
mesmos vinis do Jessé, do Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Jair Rodrigues, ele
adorava também ouvir Pinduca e Teixeira de Manaus. Além de ir para casa do avô
paterno onde toda a família se reunia, era aquela bagunça e tinha um piano que
era da minha tia. Assim fui construindo meu gosto musical, até hoje ainda
guardo essas pérolas musicais do passado, comprei até uma rádio eletrola para
escutar novamente. Mas o interesse maior foi na hora da escolha do curso para
prestar o vestibular da Ufam, pois fazendo Educação Artística poderia ser a
diretora do Teatro Amazonas, pensar alto é importante, porque me motiva e me
instiga a enfrentar os desafios. Foi na Universidade, no Departamento de Artes
que aprendi a arte da música, não cheguei a ser a Diretora do Teatro Amazonas
(risos), mas estou realizada pelas minhas conquistas como profissional, em
retornar ao Departamento, como professora. É assim que quero ser lembrada e é
assim que quero colaborar com a educação musical e com a pesquisa em música em
nosso Estado.
Paneiro – Então conta um pouco como é
trabalhar no Departamento de Artes da UFAM, com profissionais que foram seus
professores.
Lucyanne - Gratificante,
prazeroso, desafiador e de muita responsabilidade. É gratificante porque são
pessoas que fizeram parte de minha formação e agora são colegas de trabalho,
amigos e uma grande família, temos discursos diferentes e iguais, mas tudo em
benefício da educação dos alunos e do desenvolvimento dos cursos. É prazeroso
porque o ambiente é descontraído.
É desafiador
porque todo momento aprende em relação a ser um professor universitário, em ser
espelho para os alunos e você próprio se espelhar nos seus mestres, a aprender
administrar um curso, coordenar projetos. É um desafio pessoal que você se
propõe para o resto da vida. E este constante desafio te trás
responsabilidades, se torna uma referência entre seus pares e futuramente poder
exercer o mesmo papel para outros colegas que virão compor o quadro de
professores do Departamento e de continuar com o trabalho que foi sendo
construído pelos antecessores. É um cânone que vai sendo construído.
Paneiro – E além da UFAM você desenvolve
outros projetos ou atividades?
Lucyanne - Apesar
de ser Musicoterapeuta também, não exerço esta profissão, pois tenho Dedicação
Exclusiva na UFAM e a Universidade te dá possibilidades de realizar projetos e
atividades para atender a sociedade e de poder ter uma realização pessoal. Uma
das realizações é estar como colunista do Jornal do Commercio, na Coluna Maraka
(nome dado por mim) que significa Música’ em tupi, uma coluna que propõe falar
sobre música, enfatizando a música em Manaus em relação a pesquisas, histórias
musicais, produção musical, tendo aos poucos um senso crítico sobre o cenário
da música atual em nossa cidade que é para onde quero encaminhar a escrita, ou
seja, tem um perfil informativo, científico e educativo.
Paneiro – Você defendeu sua pesquisa de
mestrado recentemente, falando sobre a vida musical em Manaus nos anos 1960, como
surgiu a ideia do projeto?
Lucyanne - Surgiu
em uma conversa no bar Galvez com o prof. Adelson Santos e com a soprano Mirian
Abad. Falávamos sobre a música amazonense: da situação de alguns artistas, da
produção musical, a realização profissional como músico, as dificuldades
encontradas. E pedi ao prof. Adelson que falasse como começou sua carreira
musical. Foi quando ele relatou que iniciou na década de 60: era um jovem que
estava aprendendo violão ao som da Bossa Nova e da Jovem Guarda. A partir
disso, fui elaborando a temática, organizando o pensamento, juntando os dados,
a história e os fatos. Assim surgiu dissertar sobre a música em Manaus na
década de 60, uma década de importantes fatos políticos como a política da Boa
Vizinhança entre os EUA e os países da América Latina em conseqüência da Guerra
Fria, o início da Ditadura Militar no Brasil, os movimentos musicais cada um
com uma ideologia e estética musical diferente, além da discussão da
internacionalização da Amazônia e o surgimento da Zona Franca de Manaus. Diante
de todos estes fatos, como foi a vida musical na cidade de Manaus na década de
1960? Foi o principal questionamento para delinear a pesquisa que finalizou com
o título AS INTER-RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS NA VIDA MUSICAL EM MANAUS NA DÉCADA
DE 60, ou seja, uma discussão sobre a indústria cultural (gravadoras e loja de
discos), as rádios e o cinema, os clubes da cidade e o Festival de Dublagem.
Paneiro - Você poderia dizer quais os
pontos mais difíceis e os mais encantadores no processo da sua pesquisa?
Lucyanne - Melhor
começar pelos difíceis, mas os ruins já esqueci: a pesquisa é algo desafiador,
a comunidade científica é mais ainda, transformar todo o material que tinha
(entrevistas orais, documentos de jornais, vídeo) em científico é um trabalho
mental e psíquico muito desgastante e
constantemente te põe em provas. É como criar um mosaico e cada peça,
mesmo que seja aquela pequena, é importante para construção do pensamento. Você
dorme, acorda, come, viaja, pensando na tua pesquisa. Tive muitos sonhos como
se estivesse escrevendo. Uma das dificuldades foi encontrar os periódicos da
época, pois a Biblioteca Pública estava fechada, então tive que me dirigir em
alguns locais para consegui-los; as rádios não possuíam mais nenhum documento
de programação musical do período; o teu referencial teórico de uma hora para
outra pode mudar, pois o material que consegue na pesquisa de campo pode te
mostrar outro cenário. Outros pontos difíceis é que a sua vida social fica um
pouco de lado, tem que ler bastante e em pouco tempo, então qualquer tempo é
precioso, os amigos entendem. A família é a que mais tem paciência, pois sabe
das dificuldades que tive para conseguir entrar numa Pós-Graduação e da
importância que esta formação vai ter no futuro.
Os mais encantadores é quando vai encontrando material precioso, como
por exemplo, o vídeo do Festival de Dublagem de 1966, sem áudio, mas rico em
imagens; quando a pesquisa não é mais um projeto com objetivos, justificativa,
metodologias, cronogramas e referencial, e vai se transformando em capítulos,
tua escrita muda, teu pensamento é mais rápido e o resultado é satisfatório.
Mais satisfatório é ouvir a ata final de aprovação, você tira uma tonelada das
tuas costas e sabe que o que escreveu, o tempo que levou, as coisas que deixou
de fazer valeu a pena, pois deixou um legado para a sociedade, para os futuros
estudos e pesquisas, contou uma parte da história musical da cidade. A
dissertação não é só minha, é da sociedade, é um documento oficial, para quem
quiser conhecer, pesquisar, continuar, aprofundar, sobre nossa música
amazonense.
Paneiro – E sobre essa continuidade, você
pensa em continuar com a pesquisa, desenvolver projetos de extensão na
universidade, publicar? Quais os planos agora?
Lucyanne –
Agora é continuar... tem muito tema a pesquisar. Estamos iniciando um projeto
de extensão no Departamento de Artes chamado “ Mapa Cultural” um projeto que
tem como objetivo catalogar documentos musicais (vídeo, periódicos, fotografia,
partituras, entrevistas, etc.) para compor um banco de dados que serão
posteriormente objetos de pesquisa dos universitários, dos alunos do ensino
médio, de outra universidade, enfim, para quem tiver interesse nesta área. Mas
a intenção maior é criar o Museu da Música Virtual do Amazonas, é um projeto
grande, que não vai ser feito em um ano, vai depender de investimentos, de
material humano e que tem direcionamentos para o doutorado, na área que
pretendo fazer de Arquivologia musical. Quanto a publicações, anualmente
participo do Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em
Música - ANPPOM, um congresso que reune pesquisas de todas as linguagens
musicais, professores e pesquisadores das Universidades do Brasil, uma forma de
divulgar sobre a história da nossa música e fazer parte do mosaico da música
popular brasileira, que é uma só. Estou aguardando a publicação de um artigo
aprovado na Revista Somanlu do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na
Amazônia, da Ufam, que tem como tema: "Panorama econômico, político e
cultural da cidade de Manaus na década de 1960", isto é o início de uma
longa jornada acadêmica e tudo será feito para a construção da nossa história
musical.
Paneiro - O que a Lucyanne gosta de fazer
nas suas horas de folga?
Lucyanne - Ir
ao cinema, a sorveteria, pegar a estrada, alimentar o ócio de vez em quando é
bom, pois é quando surgem as idéias, curtir a família, estar com os amigos na
praça, fazer alguma festa, tirar fotografia, assim...coisas simples nos fazem
bem....
Para pensar rápido...
1. Um livro: inteligência emocional, Daniel
Gulemann2. Uma música: É preciso saber viver
3. Um filme: Coração valente
4. Um lugar: minha casa
Agradecemos a professora e pesquisadora Lucyanne Afonso pela entrevista e desejamos muito sucesso nos próximos projetos. Esperamos poder divulgá-los em breve! A pesquisa está disponível no banco de dados da Biblioteca Setorial do Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL, no Campus da Universidade do Amazonas.
Comentários
Postar um comentário