Catacumba de São Calixto - Um pouco de história

Galerias das Catacumbas de São Calixto, Roma - Itália.  Postal - Acervo particular.

Durante a Semana Santa (mesmo que para muitos seja apenas mais um final de semana prolongado), para os cristãos representa um momento especial de renovação da fé. Pensei em escrever sobre os rituais desse período mas lembrei da força dos primeiros cristãos, que mantiveram sua fé sem grandes templos e festas. E dos mártires que foram sacrificados por defenderem essa fé, ainda não tão compreendida. Quando chegamos ao século XXI, com uma Igreja Católica tão rica, muitos podem não saber que ela não começou assim. E quando um novo Papa assume com o nome de Francisco, evocando a simplicidade em seu discurso e seus atos, é um sinal de que precisamos todos lembrar da força histórica, simbólica e espiritual que tem o cristianismo em seu nascedouro.

Os cemitérios subterrâneos de Roma são uma experiência incrível e vale a pena para quem puder ir a Roma. Fascinam pela arquitetura subterrânea e pela história que se respira à medida que se vai entrando nessas galerias e o frio do ambiente toma conta do corpo. Neste post, dedico atenção especial à história dessas catacumbas, que ajudam a contar a história da origem do cristianismo.

As catacumbas eram cemitérios subterrâneos construídos pela facilidade e segurança nas escavações e podiam alcançar até uma altura de 5 metros.  Em Roma existem mais de trinta desses cemitérios que eram construídos geralmente dentro de propriedades de famílias ricas. As famílias enterravam seus mortos em galerias que eram decoradas com pinturas, identificadas (a maioria) com placa em mármore, e também eram deixados alguns objetos como lâmpadas e perfumes. As catacumbas funcionaram até meados do século V, quando deixaram de acontecer os sepultamentos e elas se tornaram santuários, onde as pessoas iam para prestar homenagens aos mártires. Apesar das guerras e pobreza, as catacumbas continuaram sendo visitadas, restauradas e embelezadas pelos papas no século VI. Nos séculos VII e VIII, haviam guias para peregrinos, chamados de itinerários, que demonstrava como a atividade continuava forte nesses espaços sagrados. Nesse período, quase todos foram novamente restaurados. Nas primeiras décadas do século IX as relíquias começaram a ser transportadas para as igrejas que eram cercadas por muralhas. Diante disso, as visitas acabaram, porque o único objetivo era o culto aos mártires e as catacumbas ficaram esquecidas até o séculos XVI, quando Antonio Bosio (1575-1629) começou uma pesquisa sistemática sobre elas. Esse interesse causou também a depredação, pois muitas catacumbas foram violadas e tiveram seus mármores e objetos furtados. Mas em 1852, criou-se a Comissão Pontifícia de Arqueologia Sacra e aliado ao trabalho de Antonio Bosio, as catacumbas ganharam novamente destaque, tornaram-se os monumentos subterrâneos antigos mais sugestivos.




Cripta de Santa Cecília, século II-III. Catacumbas de São Calixto. Postal - Acervo particular.
A Catacumba de São Calixto é oficialmente, o cemitério mais antigo da comunidade cristã em Roma. Neste cemitério foram enterrados quase todos os papas do século III (nove pontífices), além de outros fiéis não tão ricos mas igualmente cristãos e mártires como Santa Cecília. Fica localizada na Via Apia Antica e pertencia à família do diácono chamado Calixto, que administrou o cemitério e durante o seu papado (199-217), o ampliou consideravelmente. Em alguns pontos, a galeria chega a ter cinco andares.

Santa Cecília é considerada pelos cristãos como a padroeira da música sacra, tendo sua dia comemorado em 22 de novembro. A escultura que está nesta cripta foi feita por Stefano Maderno, em 1599 e reproduz a posição em que, segundo relatos do Papa Pascoal (817-824), o corpo da santa foi encontrado, após ser morta por professar sua fé cristã (provavelmente entre 176 e 180).


Cripta dos Papas, século III. Catacumbas de São Calixto, Roma. Postal - Acervo particular.
 A Cripta dos Papas foi encontrada nas escavações de 1854, nela foram sepultados os pontífices que reinaram entre 230 e 283.


Cripta do Papa Milziadi, século IV. Catacumbas de São Calixto. Postal - Acervo Particular.


Estas informações foram retiradas do livro Catacumbas de Roma: origem do Cristianismo, uma publicação de 1981, da editora Scala Group S.p.A. Tem introdução do Padre Umberto Fasola, que na época (1980) era Reitor do Instituto Pontifício de Arqueologia Cristã. E as imagens que ilustram este post são postais disponíveis nas lojas de souvenirs das catacumbas (no caso, na Catacumba de São Calixto), com selo da Pontificia Commissione di Archeologia Sacra Città de Vaticano.

Quando eu li o livro A Cidade Antiga, de Foustel de Coulanges, fiquei surpresa ao descobrir que "a cidade dos mortos veio antes da cidade dos vivos". E com essa história sobre as catacumbas, mesmo que templos de adoração aos deuses já existissem, esses espaços também podem ser considerados propagadores da fé cristã. Multidões iam constantemente para prestar homenagens aos mártires. As catacumbas eram espaços de oração e adoração. Hoje são espaços de história e memória de uma fé muito viva!



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Obs.: Os postais aqui retratados foram adquiridos como souvenir nas Catacumbas de São Calixto e estão com o selo da Pontificia Commissione di Arqueologia Sacra Città del Vaticano, responsável pela divulgação e comercialização das imagens das catacumbas, que não podem mais ser fotografadas pelos visitantes.

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