Jogo da Complexidade



Conviver com crianças nos faz desenvolver e exercitar a criatividade de forma natural, porque o processo de conhecimento, o processo reflexivo filosófico da criança acontece de forma natural (ou pelo menos deveria acontecer). É a descoberta do mundo que encanta e surpreende que vai gerando as questões, as dúvidas. Tenho uma sobrinha de 11 anos que está cursando o 6º ano do Ensino Fundamental (antiga 5ª série), aquela fase escolar em que os conhecimentos são todos compartimentados e temos um professor para cada uma das 9 ou 11 disciplinas. Uma pena que no período em que a criança mais exercita seu conhecimento de mundo ela perceba que tudo tem suas caixinhas e cada professor fala de um jeito diferente, de coisas diferentes, como se não houvesse conexão.

Não sou pedagoga nem psicóloga, sou arte-educadora e já trabalhei com crianças de 4 a pessoas de 81 anos. Também já lecionei para alunos do 6º ano. Talvez por essa experiência de trabalho constante com crianças eu tenha desenvolvido uma metodologia baseada em jogos e brincadeiras, e que uso mesmo nas aulas do Ensino Superior. Quem não gosta de um jogo? E pedagogicamente sabemos que os jogos podem educar e é uma forma deliciosa de aprender, pela brincadeira.

Eu e minha sobrinha gostamos muito de assistir filmes (a contratação de uma tv por assinatura mudou nossas vidas). Antes comprávamos os dvds ou víamos no cinema, agora podemos assistir em casa, agendar a programação, assistir mais filmes e coisa e tal. Nossos preferidos são os filmes de super heróis. E a partir deles começamos a brincar de relacionar os personagens. Primeiro começamos a ver quais filmes os nossos artistas preferidos já tinham feito e que tipo de papel desempenhavam. Vimos que o Volverine, por exemplo, em outros filmes sempre mata a mulher que ama. Em X-Men ele mata a Jean Grey; em Van Helsing - o caçador de monstros, ele se transforma em lobo e mata a mocinha. E continuamos vendo a relação entre os personagens e suas atuações nos filmes. Esse foi o começo da brincadeira. Agora quando ela gosta, pesquisa sobre os artistas na internet, onde moram, quantos anos tem, se são casados (essa parte é pra mim) e que filmes fizeram.

No passo seguinte, começamos a relacionar os personagens de um filme para outro, como uma sequência. Porque nos filmes dos heróis que vão compor depois Os Vingadores, existem elementos e personagens de ligação. E isso nos encanta ainda hoje. A partir disso, passamos a procurar uma relação de continuidade entre outros personagens e filmes diferentes. Em Água Para Elefante, o mocinho é o Jacob (que em Crepúsculo faz o Edward). No filme Água Para Elefante ele apanha tanto que pensamos que teria sido nesse momento em que o Dr.Cullen o encontra quase morto e o transforma em vampiro. Tem outras histórias emendadas que não lembro agora.

Para além disso, pensamos em criar outros grupos de Vingadores, porque, afinal de contas, todo super herói precisa tirar férias. E pensamos em juntar o Quarteto Fantástico com o Demolidor, Homem Aranha e o Motoqueiro Fantasma. Esse grupo ficou legal porque vimos que o Quarteto Fantástico trabalha durante o dia e o Demolidor, Homem Aranha e Motoqueiro Fantasma, costumam aparecer só à noite, durante o dia eles tentam ser normais. Deixamos os X-Men todos juntos porque eles já formam um bom grupo de trabalho. Também vimos que esses super heróis são dominadores, como no filme O Último Mestre do Ar. O Motoqueiro Fantasma, por exemplo, é um dominador do fogo; o Magneto é um dominador de metais; o professor Xavier é um dominador de mentes. E falando em professor Xavier, ele era o Sr. Tumnus, amigo da Lúcia, em Nárnia. Deve ter fugido de lá e chegou ao nosso mundo com superpoderes, transformando-se no Professor Xavier, de X-Men Primeira Classe.

Tentamos montar um grupo de Vingadores só de mulheres: Mulher Maravilha, Electra, Mulher Gato e a She-Ra. Mas este ainda está incompleto. Precisamos de um total de 6 ou 7 para completar o grupo. Pensamos também em montar um grupo de Vingadores com super heróis brasileiros, conseguimos dois: Capital Nascimento e Lampião.

Nosso trabalho de conexão continua. E para quem pensa que isso não leva a lugar nenhum e que é perda de tempo ou alienação, eu defendo que é uma forma criativa de estimular a percepção, a pesquisa e o conhecimento através da brincadeira e usando os recursos que as crianças gostam. Dizendo de outra forma, é usar o mundo deles para instigar o pensamento complexo.

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