Desafio Literário - 2021 é 100 - FEVEREIRO - Livros teóricos

 

Desafio Literário - 2021 é 100 - Livros teóricos lidos

Entre os livros teóricos que li esse mês está a continuidade de leituras do Peter Burke, com o livro A escrita da História; a continuidade do Roger Chartier, com Os desafios da escrita. Um livro que me surpreendeu muito foi Para ler o livro ilustrado, da Sophie van der Linden; e um recém-chegado e logo lido É hora de mudar de via: as lições do coronavírus, do Edgar Morin. Todos direcionados a produções que estou desenvolvendo atualmente. E isso facilita muito a leitura, a torna mais rápida e objetiva. E deliciosa por proporcionar grandes descobertas. Quando a gente sabe o que quer do livro ele responde sorrindo! 

Nesse primeiro semestre estou envolvida com dois projetos:

1. Literatura Indígena: em que estou produzindo um material didático a partir das narrativas de autores indígenas, nos livros de literatura infantojuvenil.

2. Iconografias Urbanas: em que estou revisando textos e fazendo análise de material que resultará em livro sobre a Região Metropolitana de Manaus.

As leituras teóricas estão focadas a atender esses dois projetos. Além, é claro, de atender aos meus orientandos e à preparação de aulas e produção de material didático para as disciplinas que iniciam em maio. Professor está sempre pesquisando.


É hora de mudar de via

É hora de mudar de via - Edgar Morin

Esse livro eu comprei junto com o do Boaventura de Souza Santos, que também faz reflexões sobre a pandemia - O futuro começa agora: da pandemia à utopia, que ainda não comecei a ler. Selecionei logo o Edgar Morin para leitura imediata porque trata-se de um livro bem curto e eu li em poucas horas (em um dia). Escrevi uma postagem assim que concluí a leitura. Segue aqui. Trata-se das minhas impressões e traz um fichamento breve sobre a obra. Gostei bastante e me lembrou de outro livro Sete saberes necessários para a educação do futuro, em que o autor aponta vários caminhos que deveríamos ter seguido desde os anos 1990 e que poderia ter evitado esse caos que vivemos agora. O "mudar de via" retoma esses apontamentos e mais uma vez, nos mostra caminhos para melhorar o mundo.


Os desafios da escrita

Os desafios da escrita - Roger Chartier

Um livro também curtinho e de leitura rápida. Segunda aventura com Roger Chartier, o historiador do livro, da escrita e da leitura. Estou amando a escrita dele. Nem parece que é livro teórico porque é gostoso de ler (olha o preconceito estampado!). Assim como os livros do Peter Burke. Acredito que seja uma característica dos historiadores deste segmento da história cultural ou porque eu gosto desse tema.

As descobertas durante a leitura estão me ajudando a pensar sobre meus projetos de produção de material didático, de revisão e produção de livros do Iconografias Urbanas, e a pensar os próprios livros que estou lendo. Importante também pra perceber o sistema de relações e de pessoas que participam da produção de um livro. Isso realmente faz com que a gente reflita sobre a relação livro-leitor, seus suportes e possibilidades.

A sinopse é bem objetiva e dá conta do que vamos encontrar ao longo das páginas:

"Especialista no estudo da história da escrita, Roger Cartier reúne aqui cinco ensaios que mostram como o mundo digital está alterando a relação do leitor com o texto impresso. A ação da comunicação eletrônica sobre as publicações tradicionais é questionada. O próprio conceito de livro, para o pesquisador francês, está sofrendo transformações perante a revolução tecnológica propiciada pela comunicação via internet e pela leitura cada vez mais comum de textos diretamente na tela do computador. O presente e o futuro do livro e da escrita são personagens centrais destes ensaios cintilantes".

Alguns trechos que eu marquei:

"As transformações das práticas de leitura, as novas modalidades de publicação, a redefinição da identidade e da propriedade das obras, ou o imperialismo linguístico estabelecido sobre a comunicação eletrônica são todos pontos da maior importância em nossa época". pág 7.

"Assim, a busca de um idioma universal é uma ideia inútil, já que o mundo está constituído por uma irredutível diversidade de lugares, coisas, indivíduos e línguas". pág 13.

"Monolinguístico ou poliglota, o mundo da comunicação eletrônica é um mundo da superabundância textual cuja oferta ultrapassa a capacidade de apropriação dos leitores". pág 20.

"Nasce aqui uma pergunta: como pensar a leitura diante de uma oferta textual que a técnica eletrônica multiplica mais ainda do que a invenção da imprensa?" pág 21.

"Assim, o livro digital seria definido pela oposição à comunicação eletrônica livre e espontânea que autoriza qualquer pessoa a pôr em circulação na rede suas ideias, opiniões ou criações. Reconstituir-se-ia, assim, na textualidade eletrônica, uma ordem dos discursos que permitirá diferenciá-los de acordo com sua identidade e autoridade própria". pág 27.

"Como leitores, como cidadãos, como herdeiros do passado, devemos, pois, exigir que as operações de digitalização não ocasionem o desaparecimento dos objetos originais e que seja sempre mantida a possibilidade de acesso aos textos tais como foram impressos e lidos em sua época". pág 29

"A produção do livro, manuscrito ou impresso, constitui o terceiro registro da presença da cultura escrita na cidade". pág 83

"As bibliotecas deverão ser igualmente um instrumento em que os novos leitores poderão encontrar seu caminho dentro do mundo digital que apaga as diferenças entre os tipos e os usos dos textos e que estabelece uma equivalência generalizada entre suas autoridades". pág 120

A escrita da História

A escrita da História - Peter Burke

Mais uma leitura sobre a nova história cultural, encabeçada por Peter Burke. Nesse livro ele é o organizador e apresenta vários autores e temas que passam por: história das mulheres, micro história, história oral, história da leitura, das imagens, do pensamento político, do corpo. Cada capítulo traz um tema que é discutido de forma bem densa, com bastante informação e exemplos, além de indicar vários autores clássicos que abordam a temática. Esse livro, de 350 páginas e letras miúdas, foi lento de ler, porque eu esperava a escrita fluida do Peter Burke, mas ele escreveu apenas dois dos onze capítulos. 

Gostei muito do capítulo sobre A história vista de baixo, pela proximidade com os textos de antropologia que eu já havia lido. Uma coisa muito interessante desses textos é ir conhecendo e reconhecendo os autores que influenciam cada abordagem da história cultural que foi surgindo. E como nesse meio aparecem além dos historiadores, antropólogos, sociólogos, linguistas, filósofos e outros de diferentes áreas do conhecimento. 

Trechos que me encantaram:

"A história vista de baixo ajuda a convencer aqueles de nós nascidos sem colheres de prata em nossas bocas, de que temos um passado, de que viemos de algum lugar." pág 62-63

"A história das mulheres confirmou assim a realidade da categoria "mulheres", sua existência anterior ao movimento contemporâneo, suas necessidades inerentes, seus interesses e suas características, dando-lhe uma história". pág 86

"A escrita da história foi imensamente enriquecida pela expansão de seu tema, e também pelo ideal da "história total". Entretanto, muitos estudiosos atualmente consideram que a escrita da história também tem sido empobrecida pelo abandono da narrativa, estando em andamento uma busca de novas formas de narrativa que serão adequadas às novas histórias, que os historiadores gostariam de contar". pág 355


Para ler o livro ilustrado

Para ler o livro ilustrado - Sophie Van der Linden

A grande surpresa do mês foi este! É um livro ilustrado (porque está repleto com as imagens dos livros a que se refere) para falar do livro ilustrado. E a escrita da autora é deliciosa, informativa, direta, de alguém apaixonada mesmo por esse segmento de publicação.

Eu já tinha comprado esse livro há algum tempo, em 2017, mas ele seguia na estante até que por esses dias, enquanto preparava material sobre literatura indígena, resolvi consultá-lo. Não aguentei. Comecei a ler freneticamente. 

E o livro me ajudou a revisar a ficha de leitura que estou produzindo para esse trabalho com literatura indígena, me fazendo acrescentar mais dados técnicos. E me despertou para ampliar a percepção e apreciação das imagens presentes nestes livros. Agora a minha leitura de um livro ilustrado nunca mais será a mesma. Longe de conseguir fazer uma análise detalhada ainda, mas com certeza me ampliou o olhar acrescentando ao que eu já conseguia ver e tinha aprendido com as leituras do design. 

Enchi o livro com post its com anotações para o fichamento e o que vou escrever sobre apreciação de imagens em livros ilustrados. Super indico para quem se interessa sobre o tema, quem trabalha como mediador de leitura, quem é designer e quem analisa imagem de uma forma geral. 

O livro é bem didático na sua construção e divisão de capítulos, além de trazer tópicos e sínteses que ajudam na compreensão de cada ponto abordado. Ela faz uma abordagem histórica e contextual sobre o livro ilustrado, depois vai trazendo as características desses livros em várias categorias com exemplificações e encerra fazendo a análise de obras de três ilustradores. É delicioso!


Evany Nascimento e as leituras teóricas de fevereiro

E assim seguimos tentando avançar nas leituras teóricas que fundamentam os projetos. Esse mês de fevereiro só consegui fazer um fichamento, que foi do livro do Edgar Morin. Então eu estou somando sete livros lidos e que precisam ser fichados e compartilhados aqui no Blog. Vamos ver se consigo.

Quem quiser saber mais, segue a lista de livros teóricos lidos em Janeiro.

 

Até a próxima!


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