Um passeio pelo Largo de São Sebastião em Manaus
Em 2011, escrevi um texto sobre o Largo de São Sebastião, para um jornal comemorativo do aniversário da cidade de Manaus, dia 24 de outubro. Manaus comemorava seus 342 anos! O texto publicado foi um resumo do texto produzido, logo, fiquei com um texto mais descritivo sobre esse espaço que gosto tanto. Aproveito agora para partilhar o texto na íntegra e recheado de imagens. Convido vocês a um passeio pelo Largo de São Sebaastião!
Logo de início temos uma central de artesanato, um prédio de um pavimento com grafismos na fachada e portas de vidro que deixam ver algumas peças produzidas na região. Ao lado, a pizzaria, com suas mesas e cadeiras verdes, a cor da maioria do mobiliário que se vê no Largo. Em alguns dias da semana é possível encontrar som ao vivo. À frente da pizzaria, uma cabine telefônica com uma estrutura que padroniza os demais “quiosques”: estrutura em ferro, com alguns ornamentos, revestimento que proporciona transparência e a cobertura de telhas de barro, como o “ponto” do sorvete, ao lado e a banca de revistas, seguindo a rua, além da “Barraca de Tacacá”.
A banca de revistas que disponibiliza também um acervo de periódicos, atrai pela quantidade e qualidade de livros sobre a região. Seja literatura ou pesquisas científicas. À direita da Rua José Clemente, neste trecho, o casario compõe um belo cenário. A maioria restaurada materializa as marcas do estilo da época dos “barões da borracha”, uma arquitetura comum em vários lugares do Brasil e da Europa, nos fins do século XIX e início do século XX.
As apresentações artísticas, em sua maioria, são feitas nesse trecho do Largo compreendido pelas ruas José Clemente e Tapajós, com a vista maravilhosa para o imponente Teatro Amazonas. Construído na “Manaus da Bélle Èpoque”, é a maior herança da cidade desse período de grandes riquezas econômicas.
Na frente do Teatro Amazonas, a Praça São Sebastião e o Monumento à Abertura dos Portos. A praça, calçada com pedras portuguesas e seu desenho sinuoso em branco e preto que deu origem a algumas interpretações sobre o seu significado (que simboliza o encontro das águas, o encontro de raças na região, que veio antes do calçadão de Copacabana); seus bancos, embaixo das árvores, é o refúgio durante o dia, para quem quer parar ou nos finais de tarde, para quem quer passar um tempo, encontrar os amigos, ou simplesmente contemplar a paisagem antes de se deslocar para casa ou continuar suas atividades de trabalho ou estudo. O monumento ao centro, erguido no começo de 1900, com mármore italiano e bronze produzido também na Itália, é presença certa nas recordações fotográficas de quem passa pela praça, venha de onde vier.
E ao lado do Bar do Armando, a Igreja de São Sebastião, sagrado e profano convivendo. A igreja, com as badaladas do sino, anuncia as horas que passam. As primeiras badaladas, mais fortes, indicam as horas e as badaladas seguintes, mais fracas, indicam os quartos de hora. Dessa forma se tocar forte dez vezes e em seguida, duas batidas mais fracas saberemos que são dez e trinta. Aos finais de tarde, as missas deixam a Igreja cheia e durante o dia, os visitantes também entram para apreciar as pinturas centenárias.
No centro da praça, onde fica o Monumento à Abertura dos Portos, a partir das 17hs, é possível ver grupos de estudantes que ficam com violão, ou apenas sentados e conversando. É ponto de encontro. Além da população que o utiliza, o espaço funciona como cenário para locações de época, como a mini-série global Galvez, Imperador do Acre, do escritor amazonense Márcio Souza. Também para aulas sobre a arquitetura eclética da cidade, com a presença de alunos de vários níveis, do ensino básico à faculdade (especialmente os cursos de arquitetura, artes e design). Locações para comerciais e matérias jornalísticas sobre cultura para o noticiário local e nacional, são feitas neste espaço. A presença de turistas é notada diariamente. Os ônibus das agências param ao lado do Teatro Amazonas, os grupos saem e vão para o centro da praça fotografar e ouvir o guia que explica sobre a história do Teatro, do Monumento e da Igreja e eles seguem para a visita ao Teatro Amazonas, uma parada obrigatória.
Link para baixar esse texto em pdf:
http://www.slideshare.net/evanynascimento/passeio-pelo-largo-de-so-sebastio
Partindo de vários pontos de Manaus é possível chegar ao Centro Histórico: a Igreja da Matriz, a praça do relógio, o porto, são as entranhas da cidade; o coração está no Largo de São Sebastião. Subindo o burburinho da Avenida Eduardo Ribeiro, antes de chegar à Praça do Congresso à direita, o olhar encontra mais espaço, os passos vão se acalmando, os sons alteram a respiração. O espaço da Rua José Clemente até a Costa Azevedo, proporciona a seu visitante outra experiência de tempo/espaço.
Espaço da Pizzaria no final de tarde, se preparando para receber o público. |
Banca de Revistas do Largo |
Seguindo a José Clemente e chegando à Costa Azevedo, vemos as duas lanchonetes: African House (ou Mundo dos Sucos, como indica a placa) e O Pensador, restaurante e bar (que tem a placa ainda indicando “aulas particulares”, a antiga função do estabelecimento). Nesse trecho do Largo, diariamente é possível encontrar turistas, estrangeiros ou nacionais, que estão a passeio pela cidade ou que vieram a trabalho e estão hospedados nos hotéis que ficam nas ruas próximas.
Conjunto de fachadas na Rua José Clemente – Largo de São Sebastião, antes da organização do espaço com mesas, pelas lanchonetes.
Barraca de Tacacá |
À frente das lanchonetes, a “Barraca de Tacacá”, o ponto que reúne os artistas locais (grupos de músicos, companhias teatrais, estudantes de artes), profissionais ligados à área da promoção de eventos culturais na cidade e professores universitários. É um ponto sempre alegre e caloroso, não só pelo cheiro e sabor do “tacacá da Gisela”, uma delícia quente que o amazonense não resiste mesmo em pleno verão, mas pelo espaço aconchegante e “certo de encontrar” as pessoas dessa “tribo”.
O Teatro Amazonas, com suas peças todas trazidas da Europa (com exceção da madeira do piso do Salão Nobre, que é brasileira), ainda é palco de grandes apresentações artísticas, como os festivais que acontecem durante o ano, muitos deles com apresentações gratuitas, encerramentos ou aberturas no Largo. Os espetáculos que acontecem aí têm sempre um grande público, que se desloca de várias zonas da cidade.
Atravessando a praça, na Rua Costa Azevedo com a Rua 10 de Julho, além do conjunto de casario restaurado, há também o espaço do sorvete para refrescar as tardes quentes de quase todos os dias do ano em Manaus. E a Galeria do Largo, com exposições de trabalhos de artistas locais, uma pequena mostra do tanto de talentos que essa terra produz.
Atravessando a rua, chega-se ao Bar do Armando, um espaço chamado por alguns de “alternativo”, com uma clientela bem característica e cativa, de todas as idades e classes sociais, incluindo turistas. É outra visão do Largo, diferente do glamour que se tem “do outro lado da praça”.
O Largo de São Sebastião tem vários espaços, muitos públicos, diferenças e conflitos. É um espaço que contém muitos outros espaços, em diferentes momentos do dia e nos diferentes dias da semana. Além de concentrar os festivais da cidade, especialmente pelo Teatro Amazonas, é um espaço pulsante, pela presença de vários grupos que se organizam numa perceptível divisão de uso, que se alterna de acordo com os dias da semana e horários.
Por exemplo, às 17hs, o Largo ainda recebe o sol forte, e o público é constituído em sua maioria de estudantes que saem das escolas e passam pela praça, em direção aos pontos de ônibus (seja em direção à Avenida Getúlio Vargas, seja em direção à Rua da Instalação). A sombra das árvores atrai alguns, mas o mormaço ainda não permite permanecer no espaço. Às 18hs, a Igreja de São Sebastião toca o sino para o início da missa. A praça, a barraca de tacacá e as lanchonetes já começam a receber seus clientes, ainda composto de pessoas que estão saindo da escola ou do trabalho e passam rapidamente pela praça. A parada é estratégica, para fugir um pouco do trânsito intenso desse horário. Muitos fazem uma parada saindo do trabalho e indo para a faculdade ou outros cursos. Ás 19hs, o público diminui um pouco. Ás 20hs, quem está no Largo geralmente aparece para consumir, encontrar grupos de amigos nos bares ou para os shows. Todas as quartas-feiras acontecem apresentações artísticas que iniciam às 19hs, o Tacacá na Bossa. Nesses dias, o público é mais intenso a partir das 18hs e permanece até às 21hs, quando geralmente terminam os shows.
O Largo de São Sebastião é patrimônio da cidade de Manaus. Pela arquitetura, que nos remete há outro tempo, mas que é vivida nesse tempo presente; pelos espaços de consumo, sejam nos bares, lanchonetes, ou nos bancos da praça e escadaria do monumento; pelas atrações artísticas que alegram a cidade; pela oportunidade de se apresentar no Largo, que é “como se fosse” no Teatro Amazonas; pela possibilidade das recordações fotográficas num espaço “fotogênico”; pelos diversos públicos que acolhem e pertencem ao Largo; é um espaço nobre, onde o olhar respira e o coração se orgulha. É um espaço de vida.
Tomar um tacacá aqui é mais que especial!!!
inté!
Link para baixar esse texto em pdf:
http://www.slideshare.net/evanynascimento/passeio-pelo-largo-de-so-sebastio
Comentários
Postar um comentário