Era uma vez uma Árvore...


Foto: Evany Nascimento... bem antes da retirada da árvore.

"Era uma vez uma Árvore,
Muito velha, e muito bela.
Ao seu lado brotou uma Mudinha
Que, por incrível que pareça,
Era muito tagarela.
E aquele brotinho
Contava a maior prosa,
Como se fosse muito experiente.
A velha Árvore respondia:
- Calma, Mudinha, cresça e compreenda
As quatro estações que nos guiam..."



Foto: Evany Nascimento - Estruturas montadas no Largo para grandes apresentações musicais.

"Eu não sei bem se era verão,
Outono,
Inverno ou primavera.
O primeiro a chegar foi o trator.
A terra tremia, e as duas tremiam de medo.
Quem seria a próxima vítima?
Mas sobreviveram ao trator.
Aí veio a serra elétrica,
E a velha Árvore e a Mudinha tagarela
Ficaram ali cravadas,
Assistindo a um mundo diferente,
Cheio de operários,
De sons,
De materiais de construção.
Sobreviveram também à serra elétrica."


Foto: Evany Nascimento - Outro trecho do Largo, um pouco mais arborizado.

"E vejam, então, que ironia:
Não é que os homens, que destruíam tudo
E erguiam outras coisas,
Vinham se sentar todo dia
Debaixo das duas árvores?!
Cada qual com sua história,
Vidas vindo de todos os lugares.
A velha Árvore e a Mudinha tagarela
Escutavam atentas as histórias de vida que se cruzavam´
À sombra de suas copas..."


Mangueiras foram podadas no Largo São Sebastião. Foto: Macildo Ribeiro/Rádio Rio Mar - Portal Amazônia.

"A primeira a agonizar foi a velha Árvore:
- Veja, Mudinha!
Trata-se de um assassinato!
Só queria saber que mal eu fiz ao homem,
Para ele me mandar para a fogueira!
Ó céus! Não sirvo ao menos para ser uma mesa ou cadeira!
Que pelo menos a vida dele mude,
Já que não está preso em suas raízes... Ou estará?
E foi assim que a Mudinha tagarela assistiu
Ao ritual fúnebre de sua amiga,
Podada pela serra elétrica..."


Foto: jornal - D24am.com


"São um perigo esses homens que determinam assim
Que uma árvore é uma ameaça.
Ela é um exemplo, sempre,
De sobrevivência às secas,
Às enchentes,
À poluição,
Às misérias,
À solidão..."




Foto: Jornal A Crítica.com

"Quando a última árvore for derrubada,
quando o último rio secar,
quando o último peixe for pescado,
só então nos daremos conta
de que dinheiro é coisa que não se come."
Pensamento indígena.



Texto retirado do livro ÁRVORES: UM RETRATO DA NATUREZA MUITO VIVA. De Silvana de Menezes. Editora Cortez, 2005.


Na manhã de sábado, 15 de setembro, foi registrado o corte de uma árvore no Largo de São Sebastião, Centro Histórico de Manaus. Rapidamente a notícia se espalhou nas redes sociais e chegou aos jornais. A população se mostrava indignada. Quem frequenta o Largo (como eu) sabe que nos finais de tarde, em que o vento teima em se esconder desse espaço, são as árvores que ainda permitem a permanência das pessoas. Prometeram um replantio de 40 mudas no Centro Histórico. Só vou acreditar se uma delas vier para o lugar desta que foi retirada.

Jornais locais que noticiaram o fato e de onde foram captadas algumas fotos:


http://www.d24am.com/amazonia/meio-ambiente/corte-de-arvore-no-centro-de-manaus-causa-insatisfacao/68749

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