O livro RESPIRO - da necessidade de criar e escrever poesia em meio ao caos
Respiro - Evany Nascimento/Ilustrações de Clícia Vidal |
Este livro intitula-se Respiro, para mostrar que ainda respiro, para aproveitar enquanto respiro. E para trazer a poesia como momento brando, leve, diante do vendaval macabro da política e da pandemia que vivemos. A poesia como um momento de respiro. A poesia é por onde nossa sensibilidade respira.
Todos os dezenove poemas foram feitos entre março de 2020 e março de 2021. O primeiro ano de pandemia da Covid-19, em que precisamos ficar isolados e mudar drasticamente nossa forma de nos relacionarmos com as pessoas e com o mundo.
O isolamento me oportunizou um reencontro com esse gênero literário. Então vou contar um pouco à vocês como foi o processo criativo. Os textos não estão na ordem cronológica em que foram escritos. Organizei tentando criar uma narrativa, das poesias mais longas para as mais curtas e de um geral para um particular.
Nesse período, especialmente no primeiro semestre de 2020, eu estava apaixonada pelo Tolkien e cheguei aos seus livros de poesia: Tom Bombadil e A queda de Artur. Também li Os Lusíadas, de Luís de Camões, a metade do livro em voz alta, para assimilar melhor o encadeamento das estrofes. Eram poemas bem densos e para equilibrar eu recorri à alegria dos versos da literatura de cordel nas adaptações de clássicos da literatura universal: O flautista misterioso e os ratos de Hamelin, de Braulio Tavares; O Pequeno Príncipe em Cordel, de Raimundo Clementino; O corcunda de Notre-Dame em Cordel, de João Gomes de Sá; O Pequeno Polegar, de Varneci Nascimento. E ainda à obra O Brasil no Papel em poesia de cordel, com os textos do Fábio Sombra. É uma musicalidade que fica reverberando na cabeça.
Esse contato direto e diário com poesia, textos rimados, deixou meu pensamento aguçado e explodindo em quadras, sextetos e outras estruturas. Era poesia pra todo lado. E que bom que eu explodi assim.
Ilustração de Clícia Vidal |
Amazônida surgiu para uma coletânea que eu iria participar e precisava enviar um poema com temática amazônica. Fiz esse na perspectiva das narrativas autobiográficas. No final das contas, o projeto não deu certo e eu fiquei com o poema.
Rua Nova Esperança veio no momento em que eu trabalhava com essa temática da cidade como contadora de histórias e fiz uma live sobre o tema, num curso de extensão de contação de histórias. Aproveitei as anotações do que eu já vinha observando sobre a rua e procurei descrevê-la, seus sujeitos e acontecimentos.
Briga de rua já foi para dar destaque ao Napoleão que tem uma legião de fãs nas redes sociais. Construí histórias visuais com ele e resolvi contar essa história da confusão em que ele se meteu. Aproveitei e gravei um podcast também.
Ilustração de Clícia Vidal |
Esse poema Vida de Professora – A saga, eu fiz no dia 15 de outubro mesmo. Minha primeira intenção era homenagear os professores e professoras. Mas fui contando a minha trajetória e quando vi, tinha mais dessabores do que motivos de comemoração. Mas deixei assim mesmo. É a vida como ela é. Publiquei no meu blog.
Do virtual ao real SPO encontrei foi um poema por encomenda também. Para uma coletânea de professores e alunos que participaram do Curso de Letras Mediado, promovido pela UEA – turma de São Paulo de Olivença. O livro foi organizado pelo professor Lizandro Barbosa, publicado e tenho meus exemplares físicos em casa.
As aulas do Mediado também renderam a prévia do poema Delícias literárias. Aqui ele foi revisto e ampliado para fazer parte da Oficina de Mediação de Leitura com um grupo de professoras da SEMED. O foco era a literatura regional. Para compartilhar eu gravei um podcast.
Ilustração de Clícia Vidal |
Sons de Março. Foi uma paródia de um dia em que tudo aconteceu na minha rua enquanto eu tentava gravar um vídeo. Eu ia compartilhando nas redes sociais a saga, até que resolvi parar de reclamar e nasceu a paródia. Gravei, divulguei o vídeo no Instagram e Facebook e uma colega professora, Renata Fernandes, me deu mais uma estrofe “É pai, é mãe, é a filha chorando, o marido almoçando e por mim tá chamando”. E o Tom Nascimento sugeriu o título. Ampliei a paródia, gravei outro vídeo e disponibilizei no meu canal do YouTube. “Se a vida te dá limões...”
Que dia foi esse!?!. Apareceu no final de um dia bem corrido, pensei em escrever usando a velha técnica de enumeração. Dividi a estrutura do poema conforme os momentos do dia e fui listando. Ficou extenso! Até eu me surpreendi. Mas acredito que dá uma noção sobre o quão atribulado é esse trabalho remoto.
A série Poemas Curtos, são poemas que nasceram realmente curtos, uma ideia em uma ou duas estrofes. Freireando, foi para as redes sociais em homenagem a Paulo Freire. Divulgação, foi para divulgar o poema Briga de rua, que eu postei no Blog Paneiro e gravei um podcast. Tinha dias assim em que eu estava tão envolvida em rimas que fazia poemas para divulgar os poemas que tinha feito. Explodindo em poesia.
A quadra Z.L. nasceu da observação de uma foto das construções que vejo da minha laje. E de algo que há tempos eu já havia observado na área em que moro. Bordaduras, nasceu enquanto eu escrevia um artigo para a publicação de um evento realizado online, em que falei sobre a poesia como “arte que salva” e contei um pouco sobre a minha relação com esse gênero literário e minhas produções. O poeminha seguiu no final do meu texto (ainda não publicado). Dia do Nordestino, foi para uma postagem no Facebook sobre o Dia do Nordestino. E o Cidadão do Mundo, faz parte de outro projeto, mas que trouxe pra cá porque quero antecipá-lo. Ainda tenho poemas em produção.
Alguns desses rompantes que eu colocava no Facebook, meu amigo Amarildo Gonzaga acrescentava uma estrofe. Daí nasceu a série Poemas em Parceria. Só tem dois. Mas é uma série de dois. Vem chuva, foi quando olhei pela janela e vi o tempo se formando com raios e trovões e as nuvens escuras. Passarinho, foi quando olhei pela janela e vi no quintal um passarinho catando bichinhos no chão.
Respiro - Evany Nascimento/Ilustrações: Clícia Vidal |
A Série Fragmentos Poéticos ainda é um verdadeiro exercício de pensamento sintético. Não sou muito boa nisso. Deixei para o final mostrando que estou em transição. No processo de amadurecimento, menos é mais. Um dia eu chego lá (ou não!).
Então organizei os poemas e entrei em contato com a Clícia Vidal para materializar a ideia nesse livro digital e fazê-lo circular por muitos leitores (eu sonhando!). Espero que você se divirta com as histórias em versos. Que se aventure, quem sabe, a escrever as suas também. Olhar o mundo caótico e escrever poesia, não é negar o que se vê. É tentar mudar a lente e promover alguma transformação. A poesia é um respiro!
Respiro - A autora |
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