Literatura infantojuvenil indígena - Vozes femininas

 

Literatura indígena de autoria feminina

Assim como em outros campos, na literatura indígena as mulheres ainda não estão presentes em quantidade, como os homens. Das escritoras publicadas, as obras não são tão simples de encontrar. No site da Livraria Maracá, onde começo sempre pesquisando material, é onde podemos encontrar o perfil de muitas dessas escritoras e as obras que estão disponíveis. Aproveito esse post, no Dia Internacional da Mulher, para apresentar cinco autoras e suas obras. Lembrando que existem outras, mas estas, são as obras que fazem parte do meu acervo até este momento.

Uma característica comum entre as autoras aqui apresentadas, é que, das cinco, quatro trabalham com poesias e de diferentes formas: haikai, cordel, quadras e sextetos.

Graça Graúna

Flor da Mata - Graça Graúna

 
É um livro de formato pequeno, contendo 35 haikais, poemas falando sobre essa percepção sensível em relação ao mundo, evidenciando o detalhe. As ilustrações em preto e branco, conversam e ampliam o sentido da palavra. No começo a autora faz uma apresentação da obra e ao final, temos notas biográficas da autora e da ilustradora. O trabalho está classificado como: poesia brasileira e poesia indígena. Edição 2014.

"Utopia é cantar
uma trajetória possível:
Pindorama"
(texto da contracapa)

Notas biográficas

"Graça Graúna é filha do povo Potiguara (RN) e escritora indígena. Doutora em Teoria Literária (UFPE) e Pós-Doutora em Educação, Literatura e Direitos Indígenas (UMESP), é educadora univesitária na área de Literatura e Direitos Humanos". (contracapa do livro)

 

Criaturas de Ñanderu - Graça Graúna

 
Uma história de encantado que protege a aldeia, a história de uma mulher-pássaro e toda a dimensão de sagrado que envolve a vida. As ilustrações em aquarela são sublimes. Ao final do livro tem glossário. Na contracapa, apresentação do livro e notas biográficas sobre a autora. Não traz informações sobre o ilustrador. Está classificado como literatura infantojuvenil. Edição 2010.

"Uma história que conta o passado, o presente e o futuro das gentes.
Uma história que nos mostra o princípio, o meio e o fim.
Que nos traz a essência do que somos e o cuidado que temos que ter ao afundar nossos pés no solo sagrado que nos acolhe.
É preciso pisar macio para não desonrar o sagrado que há em cada um, trazido de onde mora a nossa ancestral memória.
Ser fiel exige coragem, desprendimento e afeto.
Ser fiel nos permite estar atentos somente àquilo que é legítimo e verdadeiro para não cairmos em armadilhas e nos desviarmos do caminho. É saber silenciar o coração, a mente e viver com alegria o presente que mora em nós.
É isso que Graúna nos faz: ela nos coloca em suas asas e nos lembra que somos fios na grande teia da vida
".
(texto de Daniel Munduruku na contracapa do livro)


 Vãngri Kaingáng

Jóty, o Tamanduá - Vãngri Kaingáng e Maurício Negro

Um recorte sobre mitos de criação e seres encantados. Evidencia como a relação homem-natureza não é dual para os povos indígenas, mas complementar. O livro foi escrito e ilustrado a quatro mãos: Vãngri e Maurício Negro. Ao final do livro tem informações sobre o povo e a cultura Kaingáng, um mapa mostrando as áreas Kaingáng que vão de São Paulo ao Rio Grande do Sul e biografia dos autores. O livro está classificado como literatura infantojuvenil. Edição 2010.

"A sabedoria sempre acompanhou o povo Kaingáng, que descende de duas metades diferentes: Kame e Kanhru. Uma delas rege o Sol e todas as criaturas do dia. E a outra, a Lua e todos os seres da noite. Para que a vida faça sentido, os opostos devem se unir. Por isso, tempos atrás, os Kaingáng decidiram casar suas metades. Casamentos, de fato, aconteceram. Ninguém queria ficar incompleto. Mas, faltou festa!

Os Kaingáng já tinham muitos conhecimentos sobre sua origens, plantas e animais. Vãngri Kaingáng e Maurício Negro aqui recontam, através de palavras e pinturas acrílicas feitas a quatro mãos, como os Kaingáng conseguiram aprender os segredos do canto, da dança e da música para celebrar a união harmoniosa entre as metades". (contracapa do livro)

Biografia

"Vãngri Kaingáng nasceu na Terra Indígena de Ligeiro, região norte do Rio Grande do Sul.
Trabalha como arte-educadora nas comunidades indígenas da região.
Escritora, ilustradora, artesã e artista pelo Ponto de Cultura Kaingáng Jãre.
Reside na Terra Indígena Serrinha, no município de Ronda Alta, Rio Grande do Sul.
É atualmente [2010] estudante de Ciências Biológicas na Universidade de Passo Fundo, RS.
Tem desenvolvido um trabalho de resgate e reconstituição de grafismos Kaingáng, Téi (metade Kamé) e Ror (metade Kanhru) em trançados e pinturas tradicionais
".


Estrela Kaingáng: a lenda do primeiro pajé - Vãngri Kaingáng

Uma narrativa de origem que mostra a relação do que é mortal com o universo, as estrelas, a Lua. Como somos seres de luz por descendermos da luz maior do universo. As ilustrações são encantadoras! Ao final do livro tem informações sobre o povo, com mapa de localização das áreas ocupadas e biografia da autora e ilustradora. O livro está classificado como: contos indígenas - literatura infantojuvenil. Edição 2016.

"Uma estrela desce do céu e se apaixona por uma bela índia, com quem logo se casa.
Com a ajuda da sua Mãe Lua, a estrela terá de enfrentar espíritos do mal que tentarão atacar seu filho e sua esposa.
Assim começa a história do primeiro pajé da tribo kaingáng, o líder que protegerá seu povo de todas as ameaças e os guiará para uma vida de paz, sabedoria e harmonia com a natureza
". (contracapa do livro)


Eliane Potiguara



O pássaro encantado - Eliane Potiguara

Mais uma história que trata dessa relação dos encantados com os humanos, que destaca os avós como os sábios e ponte entre os mundos, que apresenta as crianças em situação de aprendizado. As ilustrações ocupam página dupla e são poéticas. Ao final tem informações sobre os Potiguara e autobiografia da autora e ilustradora. Classificado como ficção infantojuvenil brasileira. Edição 2014.

"Os avós são figuras muito importantes para os povos indígenas. Trazem os costumes, as memórias e os ensinamentos para a vida. Neste livro, Eliane Potiguara nos conta sobre a relação com esta figura poderosa e mágica, a avó, que traz as histórias vivas dentro de si. Aline Abreu, com suas ilustrações, nos carrega para esse tempo de magia". (contracapa do livro)

Autobiografia

"Meu nome é Eliane Potiguara e sou descendente do povo potiguara.
Sou escritora indígena e vivo no Rio de Janeiro.
Minha escrita é fruto das lembranças de minha família, principalmente de minha avó, com quem aprendi a ser quem sou hoje. Minha avó trabalhava na feira, na comunidade indígena no Rio de Janeiro, onde morávamos, e sentia muita saudade dos parentes de quem foram dela separados. Por isso, ainda pequena eu escrevia cartas por ela narradas e, assim, ia me tornando uma pequena escritora.
Já viajei para vários países para relatar e lutar pelos direitos indígenas. Em 2005 fui indicada ao Prêmio Internacional "Mil Mulheres ao Prêmio Nobel da Paz". Também ganhei o Prêmio Literário do PEN CLUBE da Inglaterra e do Fundo Livre de Expressão, nos Estados Unidos, pela atuação política do livro "A terra é a mãe do índio".
Para conhecer um pouco mais sobre mim e meu povo, visite
www.elianepotiguara.org.br "

Auritha Tabajara



Coração na aldeia, pés no mundo - Auritha Tabajara

Uma narrativa autobiográfica em cordel. Uma forma diferente de narrar a vida na aldeia e os desafios da vida na cidade. As xilogravuras ajudam a dar leveza e compor o caráter lúdico da narrativa. Traz uma apresentação no começo e as autobiografias da autora e xilogravurista encontram-se na orelha do livro. Está classificado como poesia de cordel - folclore. Edição 2018.

"A vida tem sua própria lógica, sua própria escrita.
Quando a gente não a lê, ela dita.
Quando a gente não a ouve, ela grita.
Quando a gente não a entende, ela explica.
Quando a gente se apercebe, ela Auritha
".
(texto de Danial Munduruku na contracapa do livro)

Autobiografia

"Escrevo em rimas desde que aprendi a ler e escrever. Essa paixão foi sendo despertada cada vez que ouvia minha tia Maria, a mais velha delas, cantando canções de violeiros nas apanhas de feijão no roçado, e quando meu tio e padrinho lia, nas tardes dos domingos, Patativa do Assaré, Gonçado Ferreira da Silva, Leandro Gomes de Barro e outros poetas cordelistas. O encantamento veio também de quando minha avó contava histórias. Assim, eu comecei a escrever histórias em rimas.

Meu primeiro livro, "Magistério indígena em versos e poesia", foi lançado em 2004, e logo adotado pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Em 2010 escrevi um folheto intitulado "Tabajara, toda luta, história e tradição de um povo". Publiquei também vários textos em antologias organizadas em São Paulo. O cordel tem sido minha inspiração para contribuir com a tentativa de educar a sociedade não indígena as tradições indígenas do país, principalmente sobre a tradição Tabajara - por isso pretendo continuar escrevendo.

A literatura manifesta em mim uma dupla atuação: autoexpressão e resistência. Por meio dela busco desconstruir estereótipos atribuídos às mulheres indígenas, uma vez que não perco minha ancestralidade morando na cidade e usando tecnologia. Quero tirar a falsa impressão de que quando estou com roupas e pinturas tradicionais estou fantasiada, posto que isto faz parte de minha identidade e não de uma performance. A todos quero explicar por meio do meu ritmo impresso na palavra. 

Resgato aqui uma fala do grande escritor e mestre da literatura indígena brasileira, Daniel Munduruku, que também adoto para mim. Ele argumenta que "quando a literatura é produzida por nós indígenas, estamos afirmando um compromisso com a conscientização da sociedade brasileira sobre os valores que os povos originários carregam consigo, apesar dos cinco séculos de colonização". Reitero o meu desejo de que a sociedade brasileira escute minhas palavras, aqui, neste livro, ou em corpo presente".
(orelha do livro)

Márcia Wayna Kambeba


 

Ay kakyry tama, eu moro na cidade - Márcia Kambeba

Poemas que misturam narrativas autobiográficas, memórias, homenagens, a vida na aldeia e na cidade. A maioria está organizado em forma de quadras e sextetos. A autora também assina as fotos em preto e branco que intercalam grupos de poemas. O livro ainda traz um texto de agradecimento, um de apresentação e um prefácio. A biografia da autora segue na orelha do livro. Está classificado como: poesia brasileira e índio da América do Sul. A edição é de 2018.

"A cultura indígena se propaga e se mantém, há milênios, pela tradição oral. Narrativas, rituais sagrados, costumes e a própria língua são transmitidos a partir da conversa e da contação de histórias.
Se o inevitável contato entre os povos originários e os "branco" colonizador trouxe muitos prejuízos a essas culturas, também promoveu um rico diálogo entre indivíduos. Graças ao acesso à educação formal e ao aprendizado da língua portuguesa, hoje a literatura brasileira pode contar com a presença fundamental de autores indígenas para multiplicar ainda mais seu alcance.
Márcia Wayna Kambeba é uma dessas vozes, que se firma percorrendo o Brasil com sua poesia e sua música. Em Ay Kakyry Tama [eu moro na cidade, em tupi-guarani] ela constrói uma ponte entre sua origem indígena e a vida em Belém do Pará, apresentando a história de seu povo e sua luta em poesias e imagens repletas de emoção e verdade.
Com uma população conhecida de 50 mil pessoas, entre aldeados e moradores da cidade, o leitor pode conhecer e se encantar pela etnia Omágua/Kambeba pelo olhar acolhedor e combativo de Márcia, uma de suas vozes mais expressivas
".
(contracapa do livro)

Biografia

"Márcia Wayna Kambeba é indígena, do povo Omágua/Kambeba no alto Solimões (AM). Nasceu na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna. Mora hoje em Belém (PA) e é Mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas.

Escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista, Márcia percorre todo o Brasil e a América Latina com seu trabalho autoral, discutindo a importância da cultura dos povos indígenas, em uma luta descolonizadora que chama para um pensar crítico-reflexivo sobre o lugar atual dos povos originários sul-americanos".
(orelha do livro)


Dia Internacional da Mulher - Vamos apoiar mais nossas escritoras!

Neste Dia Internacional da Mulher deixo aqui o convite para que possamos buscar mais a autoria feminina na literatura, seja na literatura indígena ou em qualquer outro segmento. Vamos apoiar, dar voz e espaço às manas. Muitas mulheres já deram seu sangue para abrir o espaço que hoje ocupamos. Precisamos continuar lutando!

Até a próxima!

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