POEMA-TERAPIA
Abrigo. Caneta sobre papel A4. fev/2022. Evany Nascimento |
Sempre gostei de escrever!
Meus primeiros poemas surgiram aos 11 anos de idade. A prática de manter diários também me acompanhou durante toda a adolescência e a vida adulta. Sempre foi uma forma de externalizar principalmente aquilo que me incomodava. No papel de professora, passei a adotar também a poesia como recurso didático. Mas é no plano afetivo que as palavras me ajudam a me comunicar e muitas vezes a dizer aquilo que não consigo dizer de outra forma.
Esse post é para apresentar um poema em que consigo dizer de algo que me incomodava e que recebeu de volta uma "resposta" que me encantou. Estou chamando de "poema-terapia" porque estamos falando sobre esses incômodos, nos abrindo e nos curando de alguma forma. A resposta foi dada pela pessoa com quem estou descobrindo novas possibilidades de felicidade. E uma delas foi a alma poética compartilhada! Acredito que essa parceria que está se desdobrando para além das palavras, irá nos acompanhar por toda a vida.
Aproveitei esse grafismo que fiz pra ele logo que o conheci. Há muitas interpretações sobre o desenho. Mas o sentido que tem pra mim está explicitado no título da obra.
E vamos aos poemas de Evany Nascimento e Welton Oda.
TROCANDO DE ROUPA
O corpo se acostuma à
roupa
Como o quadro à moldura
E trocá-la no meio do
caminho
Pode doer, causar tontura
De tão apegada que está
Se confunde com a pele
A roupa nos protege
Nos apresenta
Nos desvia
Nos esconde
Nos revela
A roupa é o que visto
Pra ser vista
Mas não é quem sou
Costurei em mim
Muitas roupas erradas
Doloridas, apertadas
Descosturar é complicado
E está doendo
Talvez mais que trocar de
roupa
Eu precise trocar de pele
E me reinventar
Estou me desconstruindo
Descosturando
E está sangrando
Mas sei que vou sair
inteira
E o que de mais
verdadeiro
Que habita em mim
Será minha nova pele
Minha nova roupa
Vou vestir felicidade
* Evany Nascimento
TROCANDO DE ROUPA II
Sempre usei pouca roupa
Não me acomodo bem a nada que me
aperte
Ando de chinelos, bermuda, camisas
largas
Nem relógio uso!
Porque o tempo
Também tenta estrangular!
O calor da minha terra
Pede nu
O calor da minha musa
Pede nu
O nu me conecta com a vida!
A pele que habito
É módica, sumária
Mas é quem sou
Já me desnudei
Pra quem não devia
Pra quem, como roupa apertada,
Me constringia
Me sufocava
Hoje meu corpo, meu santuário
É só seu
Vista-me de amor
Dispa-me!
Estou me reconstruindo
Despindo-me uma última vez
E estou entregue, pronto para ti!
Sairemos inteiros
De roupas novas, peles novas!
Nos vestiremos de amor
Nos despiremos de dor
Nossa nova roupa
Será felicidade!
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