Inquietudes (que não são apenas) argentinas sobre as bibliotecas populares
A FEIRA
A Feira Internacional do Livro de Buenos Aires ocupa mais de 45 mil metros quadrado e é mais concorrida no mundo de fala espanhola. Durante três semanas de duração, as estatísticas indicam mais de um milhão de leitores e mais de dez mil profissionais do livro: escritores, editores, ilustradores, etc.
Cheguei pensando que o discurso seria sobre os e-books ou sobre crescimento da documentação escrita, uso de tecnologias ou algo assim visto que havia muitas editoras promovendo seus serviços nesse aspecto durante a feira.
* Thiago Giordano Siqueira
A Feira Internacional do Livro de Buenos Aires ocupa mais de 45 mil metros quadrado e é mais concorrida no mundo de fala espanhola. Durante três semanas de duração, as estatísticas indicam mais de um milhão de leitores e mais de dez mil profissionais do livro: escritores, editores, ilustradores, etc.
Mais
que escritores famosos e celebridades, me chamou a atenção o stand do Governo
da Cidade Autônoma de Buenos Aires, convocando por meio da Secretaria de
Cultura a população presente na feira a participar de uma “Charla Abierta” sobre
as bibliotecas do futuro.
OUVINDO A COMUNIDADE
Cheguei pensando que o discurso seria sobre os e-books ou sobre crescimento da documentação escrita, uso de tecnologias ou algo assim visto que havia muitas editoras promovendo seus serviços nesse aspecto durante a feira.
Para
minha surpresa foi bem além disso, fizeram o tal do “pensar fora da caixa” em
vez de reproduzir “mais do mesmo”. Observei
que havia cartazes coloridos e pessoas que convidavam quem passava pelo
corredor a deixar sua opinião sobre:
“Como você imagino a biblioteca do seu bairro no
futuro?”
“Você conhece a biblioteca do seu bairro?”
“Que atividade você gostaria que tivesse na biblioteca
de seu bairro? ”
Tomei
lugar na plateia, que estava bem tímida, e observei atentamente a conversa que começou
com mais ou menos oito pessoas. Cada pessoa era convidada a relatar
experiências e compartilhar o que acontecia na biblioteca de sua comunidade ou
o que gostaria que fosse feito. Aos poucos, foi chegando mais pessoas e
deixando ali suas contribuições.
A
quase dois meses vivendo em Buenos Aires, conheci poucas bibliotecas populares
mas muito me chamou atenção o fato de que muitas delas desenvolvem workshops,
oficinas, assessoria aos estudantes de primária ou coisa do tipo. Ou seja, do
ponto de vista social, cumpre sua função como um espaço democrático que
propicia e fomenta o acesso a informação e a cultura.
O QUE QUEREM OS USUÁRIOS?
Mas
nada melhor que ouvir os usuários, aqueles que fazem (ou não) o uso real da
biblioteca. Abaixo destaco algumas inquietudes e sugestões dos participantes
agrupadas de acordo com suas pertinências.
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS FALAS
Diante
os apontamentos, é obvio notar-se que as bibliotecas, principalmente as
populares devem sair um pouco do molde tradicional de ser um espaço de consulta
a livros e ajustar-se, na medida do possível as necessidades da comunidade.
Realmente,
as bibliotecas populares precisam adequar a infraestrutura para que se tornem
mais atraentes e ainda servir como ponto de cultura independentemente do tipo
de manifestação artística que seja.
Referente
ao acervo e infraestrutura creio que esse é um problema em muitas bibliotecas
públicas, os usuários defenderam que pode ser velho o livro mas conteúdo
desatualizado não deve ocupar espaço nas estantes.
Quanto
a ser um espaço de formação a crítica foi que tais atividades não ocorrem de
modo regular por ser muitas vezes um trabalho voluntário.
Como
ponto de encontro, os usuários seguem o que já apresenta as últimas pesquisas
biblioteconômicas e de empreendedorismo e economia colaborativa ao tratar de coworking – espaços compartilhados.
A
comunidade quer um espaço agradável para conversar e trocar ideias, e isso pode
trazer benefícios ao atrair mais gente e buscar soluções conjuntas para
problemas.
Os
serviços apareceram duas variáveis. Primeiro a entrega a domicílio que seria
uma excelente prática tendo em vista que aqui há muitos idosos e sentem certa
dificuldade para se locomover até as bibliotecas. Poderia ser feito então um
pacote ou uma atividade de extensão da biblioteca (claro que não estou
considerando o fator recurso humano disponível). Em segundo, a falta de
computadores com acesso à internet. Sim, há pessoas que não possuem
computadores em casa ou dinheiro para pagar um pacote de conexão. Logo, a biblioteca
estaria mais uma vez sendo útil.
ACERVO ABERTO: sim, queremos!
Por
fim, destaco em um parágrafo único: estantes ou acervo aberto. Quase que
uníssono os usuários clamaram pelo acesso aberto as estantes. Esse tema divide
águas entre gestores de bibliotecas. Ah, amigos bibliotecários, como gostaria
que tivessem presenciado a fala de uma garota de 12 anos quando disse: - Eu queria tanto chegar às estantes, pegar
os livros, poder comparar os conteúdos, saber se tem alguma coisa a mais que eu
poderia ler nos próximos dias.
Fiquei
emociado! Claro, antes de ser bibliotecário sou leitor e entendo o sentimento
de curiosidade e frustração ao mesmo tempo dessa garota. Por mais que munidos
de técnicas, conhecimentos gerias ou bom gosto, a escolha de um livro é um
processo subjetivo de identificação e jamais seremos capazes de zerar as
expectativas ou necessidades de informação de alguém.
Tudo
tem os prós e contras e depende de muitos fatores, senão começaria agora mesmo
uma nova campanha para caminhar junto com o movimento Abre Biblioteca e acabar
com esse distanciamento entre os usuários e os recursos disponíveis: ABRE
ACERVO!
Em
todo caso as bibliotecas populares dependendo do grau dos serviços oferecidos,
podem ser espaços atrativos desde que haja empenho em estar motivado para fazer
o uso criativo e inovador desses espaços no que diz respeito as atividades e
recursos. Sabemos que a mudança é lenta mas não podemos perder a esperança.
Fotos: Thiago Giordano Siqueira.
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* Thiago Giordano Siqueira é bibliotecário e está cursando mestrado em Buenos Aires - Argentina.
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